quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Pessoas Especiais

Hoje, quero mostrar a vocês um texto escrito por Cecília Schluepmann, minha prima "de sangue" e, acima de tudo, de coração. Cecília é mãe de duas crianças lindas, uma com necessidades especiais.

O texto de Cecília, que foi publicado no jornal de seu condomínio, fala por si mesmo. Então, não tendo mais nada a dizer, deixo-os com o texto.

"Pessoas especiais

Na minha vida nunca imaginei que poderia ter um filho com qualquer problema que fosse. Eu não queria e não acredito que alguém queira ter um filho especial!

Isto é um fato que acontece com milhares de famílias que de um momento para o outro tem suas vidas totalmente transformadas!

Aos poucos, vamos nos acostumando e aprendemos a decifrar este novo ser e com ele passamos a ver o mundo de uma outra forma. Aprendemos a ter mais compaixão, paciência, respeito ao próximo e a seus limites e acima de tudo a procurar não julgar nenhuma atitude tomada por alguém e a valorizar as mínimas coisas.

Os especiais, dentro de suas fraquezas e vulnerabilidades, são muito fortes! Diante de um mundo que lhes vira a cara o tempo todo, conseguem se divertir e achar alegria em pequenas coisas.

Infelizmente nos deparamos com um preconceito enorme de grande parte da sociedade que, por ignorância, medo ou até por não saber lidar, rejeita e fere não só eles como todos que os amam.

A exclusão é um fato em suas vidas, não adianta termos leis que obriguem as escolas a aceitarem estas crianças se não existirem profissionais dispostos e preparados, não adianta a obrigação de uma cota de funcionários deficientes se estes não forem treinados e preparados para o mercado de trabalho.

Isto tudo é uma exclusão velada...

Gostaria que não fosse preciso viver esta situação para entender estas famílias e ver o esforço que é feito para que os especiais possam aprender a fazer coisas básicas, como andar, falar, comer, usar um banheiro; os enormes gastos com remédios, terapias e cirurgias que na maioria das vezes são necessários, o tempo perdido com diagnósticos errados e tratamentos que não deram certo, a dificuldade para se relacionarem socialmente ou até para poderem ir aos lugares, por serem constante alvo de observação e comentários.

Se prestarmos atenção veremos que eles são verdadeiros heróis que dão um exemplo de superação a cada dia e ao mesmo tempo de coragem por sobreviverem a tantas adversidades.

Da próxima vez que olharem para um deficiente, sejam mais humanos, ajam naturalmente e com o coração...

Dedico aos meus dois filhos Christian e Felipe que são muito especiais!

Cecília Schluepmann"

domingo, 9 de novembro de 2008

Lei de Cotas - II


Apesar de a Lei de Cotas* ser o instrumento mais eficaz já visto no país para a integração das pessoas com necessidades especiais, pois a um só tempo propicia uma integração econômica e social, as dificuldades e obstáculos ainda são muitos. Não adianta uma empresa pretender contratar deficientes e assim cumprir a Lei de Cotas se, por exemplo, não estiver plenamente apta a recebê-los e integrá-los.

Outras dificuldades são a falta de capacitação, pois muitos deficientes sempre estiverem fora do mercado de trabalho e, até mesmo, do sistema educacional, e o receio de trocar o benefício previdenciário permanente por um salário que dependerá da manutenção do emprego, situação do mercado, etc.

* A Lei de Cotas (Art. 93, da Lei 8213/91 e Decreto 3298/99) obriga as empresas com mais de 100 funcionários a preencher de 2 a 5% de seus cargos com portadores de deficiência

domingo, 2 de novembro de 2008

O lidar com o deficiente - II

Há poucos dias escrevi sobre como as pessoas, por falta de preparo e preconceito, não lidam de maneira adequada com os deficientes, ou seja, da mesma forma que lidamos com os outros, de modo natural, simples. Evitam uma abordagem direta, muitas vezes por medo, ou adotam uma postura paternalista, infantilizando a linguagem. Ao assim procederem, em geral erram, e feio.

Na ocasião, citei alguns fatos ocorridos comigo. Dentre tantos outros que poderia registrar, concentrei-me em casos envolvendo profissionais da área de saúde, pois é nesse setor onde esperamos encontrar pessoas habituadas e mais bem preparadas para tratar com os portadores das mais diversas deficiências.

Hoje, ainda sobre a forma de lidar com o deficiente, quero contar sobre um depoimento que assisti da Dorina Nowill, num programa espetacular sobre deficiência visual, apresentado, se não me engano, na TV Cultura.

Antes de prosseguir, desculpo-me pela falta de melhores referências e por eventuais erros, pois comecei a ver o programa após o seu início, há tempos, e escrevo de memória. De todo modo, se há erros em detalhes do caso, não há na essência.

A Dorina contou que viajava de avião para receber uma homenagem, acho que na Suécia, e precisou sentar-se numa poltrona distante de sua filha. Lá pelas tantas, iniciaram o serviço de bordo e a aeromoça, ao lado de Dorina para poder servi-la, gritava para a filha, perguntando se deveria oferecer coca-cola ou guaraná. A Dorina interveio, recusou a oferta e pediu um uísque, porque alguns deficientes visuais, pasmem os desavisados, também tomam bebidas alcoólicas.

Depois, quando passou a tratar diretamente com Dorina, a aeromoça falava com voz alta e pausada – A - SE – NHO – RA - DE – SE – JA - MA-IS - AL-GU-MA - COI-SA? - como se Dorina fosse surda, ao invés de cega, ou como se, por causa da cegueira, tivesse alguma dificuldade de compreensão.

A história é esta. Mais um flagrante exemplo de preconceito e falta de preparo no lidar com portadores de deficiência, que ocorre no dia-a-dia, até mesmo em relação à Dorina Nowill, pessoa cujas realizações dão prova de suas muitas e extraordinárias capacidades.

O programa, é lógico, tem muito mais. Mostra as tapeçarias feitas por Dorina, fala sobre seu trabalho para os cegos, o relacionamento com os filhos, etc. Outros cegos, inclusive um advogado, dão depoimentos interessantes. Enfim, se tiver oportunidade, vale muito à pena.